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Nosso caso, Nossa casa!

Amada mulher se eu pode-se te explicar meu ser vem dos lenços coloridos. Amada mulher se eu pudesse te explicar meu ser, vem das sanzalas onde não há eletricidade, onde nós arranjamos nossos brinquedos, onde o nosso maior trabalho é cuidar da plantação e correr nos turista pra ver se compra. Amada mulher se eu pudesse te explicar meu ser vem do meu pai caído no bar, onde gastou todo dinheiro que conseguimos da colheita deste três meses que nos restava pra nos alimentar durante esse período... Seu pudesse lhe contar que nó quando crianças vimos as tropas a invadir a nossa aldeia e abrir fogo contra a população civil e levando os meninos pra os campos militares pra participarem das guerras, e as meninas pra serem criadas deles e objetos de desejos e quanto aos mais velhos, os idosos, os adultos esse eram executados a queima roupas e sangue frio, sem pudor, sem piedade, sem medo mas, os olhos de cada criança que seus pais e avôs ai executados caindo lagrimas de raiva olhando fixamente aos executadores.


Se eu pudesse lhe contar meu ser, onde andamos mais de 300 km a pé, de mata em mata, dias sem comer, sem dormir, sem tomar banho... passar ao relento, chuva e depois de duas semanas de andamento merecemos três horas de sono, sem saber onde ir, seguindo o sol pra chegar em Luanda onde há estabilidade.

Seu pudesse lhe contar que gente morre não aguentando andar com fome, sede, desnutridas e cansadas... Seu eu pudesse lhe contar meu ser, meus olhos lhe dirão o que passei, o que vivi, o que testemunhei e o que nunca desejo a ninguém.

Seu pudesse lhe dizer que ao chegar em Luanda, uns sem a pernas esquerda, uns ficaram meninos de rua aos olhos do governo partilhando com gatos um prato no lixo, dormindo debaixo da ponte.

Seu eu pudesse lhe contar meu ser, os seus olhos não parariam de lacrimejar de tanta pena, tanto sentimento de ajuda, mas agora livre ainda esses pensamentos me assombram, o meu vizinho que fora executado na minha frente, até agora lembro bem a cara do soldado que disparou, a cor da farda. Lembro dos maus tratos que sofremos antes de fugir deste campo de treino, e lembro dos que foram apanhados ao fugir, o que lhes aconteceu aos que ficaram pelo caminho não aguentando pelo cansaço e fome, pelas crianças que até agora já adultos mas ainda têm marcas das desnutrição, dos traumas causados.

Eu sou de onde não há esperança, onde não vale apena viver, onde não dá pra viver. Sou da aldeia. É la onde é a nossa casa, nossas vivencias e esse é o nosso caso.

Seu pudesse contar mais do meu ser.
Amada mulher, se eu pudesse contar meu ser!

Atenciosamente:
-"Eliseu Frederico"-

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